Todos que conhecemos os bastidores de uma campanha sabemos da importância das pesquisas de intenção de voto para definir estratégias eleitorais. Elas nos informam sobre os resultados de nossas ações e garantem previsibilidade - o que pode ser indispensável aos nanicos fisiológicos. No entanto, há um limite para o uso dessas pesquisas sob o risco de enfraquecer a própria democracia. Limitar a escolha do eleitor a uma polaridade como se o resultado da eleição já estivesse definido é uma das maiores afrontas para o nosso frágil processo democrático.
A democracia é um processo contante de lutas entre diversos interesses e para que se efetive é indispensável garantir iguais oportunidades para a manifestação desses mesmos interesses. Se já há uma previsibilidade tal que o debate eleitoral fique restrito a duas facções não há uma vigência dos principios democráticos, mas a proeminencia dos métodos científicos em detrimento das possibilidades. Em matéria de pessoas não há certezas, nas humanidades não há leis, tudo é possível.
A ênfase na racionalidade é a identidade de nossas instituições desde o período moderno e é também evidente que esse princío norteie a conduta pessoal dos indivíduos. Esse tende a agir de forma a maximizar seus interesses dentro do contexto institucional. Suas escolhas são limitadas pelos processos históricos e institucionais, portanto.
As pesquisas de intenção de voto atuam como se constituíssem uma das dimensões institucionais do processo eleitoral, restringem ainda mais os pré-arranjos existentes ao antecipar o "resultado" das urnas. O eleitor não vota em outras vias com receio de "desperdiçar" o voto. Não vota no representante dos seus interesses porque já está convencido de que ele não irá ganhar.
Essa cientifização da vida política é uma forma sutil de dominação, pois é requisito básico da democracia que todos os cidadãos tenham direito de formular idéias, expressar interesses e opiniões e convencer seus concidadãos - de forma igualitária. As pesquisas de intenção de voto limitam a escolha do cidadão eleitor e as possibilidades de campanha dos demais partidos - pois sequer são convidados para os debates televisivos, além de aumentar as dificuldades para seu financiamento etc. E é indispensável dizer que o princípio científico pelo que se pautam é esdrúxulo, pois diferentes metodologias podem trazer resultados estratosfericamente divergentes, além de se tratar de um campo gelatinoso, buscando uma certeza onde o que predomina é a inconstância do cidadão comum e apartidário.